Entrevista com Mestre Amen Santo

Mestre Amen Santo

Foto by Mestre Boca Rica

 

A Capoeira tem começo mas não tem fim. Com esta linda frase o Mestre começou a aula.

Criador do grupo Capoeira Batuque, responsável da parte artística do filme de Capoeira mais conhecido no mundo inteiro Only the Strong , e um grão percussionista nos passa a sua vivencia na capoeira nesta entrevista.

Entrevista a Mestre Amen Santo

Como e quando você chegou na Capoeira?

Na realidade eu comecei na capoeira com 7 anos de idade. Eu morava no bairro da Liberdade e lá num barracão tinha uma academia e a fábrica de berimbau do Mestre Waldemar da paixão. A primeira vez que eu vi a Capoeira eu tinha 6 anos de idade quando eu fui pro supermercado chamado Mercado de Aguinelo, onde existia uma roda que o Mestre Waldemar fazia sempre, bem na frente desse supermercado. Eu ia pro supermercado com a minha mãe e vi essa roda, e de curiosidade parei para olhar. Pela primeira vez o Mestre Waldemar, por primeira vez, começou brincar comigo Capoeira lá na roda, e essa foi, para mim, a introdução na Capoeira. Passaram uns seis meses quando eu descubri que o Mestre Waldemar tinha essa fábrica de berimbau que estava praticamente detrás da minha casa. Dava pra ir andando. Eu comecei a ir pra lá com outros meninos que estavam lá ajudando a fazer berimbaus e dalí veio o ensinamento informal. O Mestre mostrava uma coisa aquí, mostrava outra alí mas não era realmente uma aula de Capoeira, era ele passando uns movimentos. Aí fui pegando o gosto pela Capoeira e comecei a procurar mais, a treinar em outros lugares. Eu encontrei o Mestre Aguila e treinei muito com ele, foi mais a vivência com os capoeiristas que moravam na área, foi nas rodas de capoeira.. e assim começou a minha vivência na capoeira.

Quem é seu Mestre?

Eu diria que o que me introduziu na capoeira foi Mestre Waldemar, mas eu tenho muita admiração e muito respeito para o Mestre Aguila também.

Pode explicar como foi a convivência com eles?

A convivência com o Mestre Waldemar foi aquela como de avô e neto, a gente tinha muito carinho, mas também era muito duro. Era uma convivência bonita que eu acho que nem sabia o valor que tinha essa convivência com ele. Não sabia o valor desse ensinamento que estava acontecendo… mesmo que fosse informal foi uma lição de vida para mim.
Com Mestre Aguila a gente teve uma convivência lá no Duque de Caxias onde ele dava aula e lá a gente realmente treinava duro, ele era uma pessoa muito severa. Eu lembro que cheguei pra treinar um dia e tinha um monte de cadeiras espalhadas pra treinar e um dos testes que eles faziam para saber se você queria treinar capoeira mesmo e pra ver se você ia voltar, ele tava conversando no meio das cadeiras e deu uma benção no peito e eu caí por cima das cadeiras e todo mundo ficou dando risada, mas era uma forma de introdução da academia. E na próxima aula eu tava lá.

Como foi o processo de criação do seu grupo?

Na realidade o primeiro grupo se chamava Ginga Bahia e depois do Ginga Bahia virou Capoeira Batuque. A gente está fazendo 30 anos agora de capoeira nos Estados Unidos. Em realidade foi uma colaboração com Mestre De Sola mas o tempo foi passando e o Mestre De Sola fez outras coisas para continuar com o seu trabalho e eu fiquei com Capoeira Batuque. O processo foi um processo de ter um grupo que tivesse mais um foco em pesquisar, que eu gosto de pesquisar muito, e eu acho que um capoeirista é um professor, é um Mestre mas também é um pesquisador que segue aprendendo.

Como foi a frase com a que você começou hoje a aula?

A Capoeira tem começo mas não tem fim. Você está sempre aprendendo, é uma arte em movimento.

Tem muita gente que começou na Capoeira depois de ver o filme Only the Strong, você estava envolvido nesse projeto, como chegou a oportunidade e o que acha você do resultado?

Para começar o Mark Dacascos estava treinando comigo antes do filme. Quando ele veio, o projeto do filme da 20th Century Fox, eles vieram para a minha academia, que era muito pequenininha, bem humilde, eles vieron a aula, fizeram a aula e gostaram muito. E eles pediram pra mim pra ser o assitente do roteiro do filme, pra fazer a coreografia do filme e trabalhar na parte da Capoeira. Eu comecei a trabalhar encima disso e como o Mark Dacascos já era ator, ele também fiez a audição e passou. Eles queriam que só o Mark Dacascos e eu jogassem capoeira, que tivessem só duas pessoas jogando capoeira e eu falei, “gente, se vocês vão fazer um filme de Capoeira tem que ter roda, tem que ter berimbau tem que ter canto, tem que ter o que é a Capoiera”. Se bota só duas pessoas jogando não vai identificar o que é a Capoeira. Levou mais o menos 3 meses para convencer o produtores e o diretor até que eu tinha ums amigos que moravam na Florida, um grande amigo o Mestre Cesar de Alabama, o Pele, o Branca de Neve, uma amiga chamada Claudia, eu liguei pra eles e eles vieram, fizemos uma roda, fizemos toda aquela apresentação que ficou legal e eles entenderam o contexto e começamos a trabalhar roda no começo e roda no fim. E daí a gente ficou trabalhando com o Mark as coreografias de luta e Only the strong virou uma referência no mundo da Capoeira, onde realmente ajudou e transformou essa visibilidade. Criou uma grande visibilidade, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. E foi onde a capoeira expandiu muito.
Foi uma introdução porque realmente não podia, é um filme e filme é ilusão. Tem coisas exageradas mas não sai muito da realidade.

Você é um grande percussionista, a paixão pela parte musical chegou antes da Capoeira o chegou junto com ela?

Na realidade eu lutava boxe e também fui criado num terreiro de candomblé. Nesse terreiro você tem que tocar. Então sou ogum no candomblé e a gente toca desde criança na batucada, nas caixas, nos garrafões, nos plásticos, e tudo isso foi parte da paixão de tocar percussão. Se você vai em Salvador você vai ver crianças tocando em latas, isso é uma coisa que está dentro da gente. E com tudo isso eu fui praticando, tendo mais experiência. Trabalhar no grupo Olodum da Bahia também me ajudou muito porque me deu uma visão mais global, não só nacional ou regional. A percussão sempre andou muito comigo, eu gosto muito da música e por isso a música na Capoira para mim é o segredo da arte.

Qual é o conselho que você daria para uma pessoa que está começando na Capoeira e está, assim, como perdido?

Eu acho que, eu não sei se perdido seria a palavra certa, eu acho que a Capoeira tem muitos caminhos, aí você tem que ver que caminho que serve para você. Cada um tem gostos diferentes, então veja assim. Uma coisa que eu sempre falo para os iniciantes para nunca comparar o que ele faz com outra pessoa e querer fazer o que outra pessoa faz. Você tem que aceitar como você é, entender que você tem limites e também tem coisas que você vai fazer bem que ninguém vai conseguir fazer. Você tem que estar bem com você mesmo. Eu acho que a lição maior é não querer copiar e não querer ser como outra pessoa, que acontece muito na capoeira Ah, eu gosto desse movimento, eu quero ser igual que ele… nunca vai ser igual. Cada um tem a sua personalidade, cada um tem o seu jeito de ser. Eu acho que o conselho que eu daria e: procure ver o que funciona em você, o que vai fazer você feliz, e tirar o melhor da sua capoeira.

Cual é seu nome real, qual é o seu apelido e por quê?

O meu nome real é Joselito do Espirito Santo. E o meu apelido é Amén. Se você bota todo junto: Joselito Espirito Santo, Amén.

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