Entrevista Mestre Zé Antonio – Barracão da Capoeira

José Antônio dos Santos de Almeida, Mestre Zé Antônio, nasceu em Guaratinguetá-SP em 07/01/1958. Começou Capoeira aos 15 anos com Cledir Fitipaldi.

Nesta entrevista o Mestre compartilha connosco a sua experiencia na Capoeira mas também fala da importância da música e da festa do Jongo.

A gente teve a oportunidade de entrevistar o Mestre em Novembro de 2018 no evento Besouro Preto em Barcelona.

Não percam!

Mestre Zé Antonio

A primeira pergunta que a gente tem para você è: Quando e como você chegou na Capoeira?

Eu comecei capoeira na minha cidade mesmo, em Guaratinguetá, no estado de São Paulo, com um capoeirista do estado do Rio de Janeiro que morava em Resende. Ele foi estudar na minha cidade para fazer um colégio técnico.

Lá eu vi a capoeira. Ele fiz uma apresentação de capoeira e aí eu procurei saber onde è que era. Ele estava dando uma aula para ajudar, ele morava na república e precisava uma renda. Ele não era um professor nem um mestre, era praticamente um capoeirista de rua  e ele começou dar umas aulas para poder ajudar ele.

Ele era do Rio de Janeiro e aprendia também o que a gente chamava de oitiva ele olhava e trazia movimentos para a gente. Pegava algumas rodas de alguns mestres antigos da época: do mestre Touro, do mestre Dentinho… O mestre que ele falava, Mestre Sorriso, do Mestre Bimba que passou pelo Rio do Janeiro.

Então ele pegava treinamento daquela turma e levava pra Guará. Ele ficou pouco tempo ali mas naquela realidade com muito pouco tempo a gente já tinha uma boa base, a gente treinava muito.

Depois de três o quatro meses ele ia pro colégio e me deixava puxando as aulas.

Na época a gente treinava basicamente golpe, ginga, sequência do Mestre Bimba e jogava. Praticamente isso.

Ele me deixava tanto porque eu também tava no colégio e ficava puxando as aulas. A gente ficava puxando esse meu amigo, o Marquito, que atè faleceu este ano agora, a gente ficava puxando as aulas para ele.

Esse foi o meu começo na capoeira no 1974, com esse capoeirista de rua que se chama Cledir Fitipaldi o apelido dele na época era Bambú.

O senhor não tem apelido na capoeira né?

Não, na capoeira não

Você teve algum apelido na sua vida?

Sim, eu tive apelido de criança.

Muita gente me conhecia como o Zé do Beija Flor que era um time de futebol da cidade que eu fundei junto com outro amigo. Algumas pessoas me chamavam assim, as pessoas ligadas ao futebol.

De família os meus tios paternos me chamavam de Boi. Porque eu brincava muito, fazia uns boizinhos e ficava brincando sozinho. Enquanto eu trabalhava na fábrica lá me chamavam de Zé Pezão. Mais nenhum desses apelidos foi pra Capoeira.

Quem é o seu Mestre?

O meu Mestre é Suassuna, Reinaldo Ramos Suassuna.

Como eu falei os primeros pasos eu aprendi com esse capoeirista de rua mas ele não era mestre. Ele me incentivou a continuar com a capoeira. Quando ele foi embora me deixou lá.

Entrenamos um período, alguns anos sozinhos eu na frente do trabalho puxando as aulas. Eu e o Marquito.

Depois de um tempo veio o meu irmão Ponciano que ficou com a gente lá. E aí conhecemos o Mestre Suassuna depois de alguns anos e passamos todo o nosso trabalho pro Mestre Suassuna. Passamos a ser alunos dele. Ahí ficamos mais de 30 anos com o Mestre.

Quando você se formou (nas turmas anteriores) muita gente em se formar criava o seu próprio grupo. Você foi um dos primeiros a manter o nome do Grupo Cordão de Ouro depois de se formar

Sim, não era tradição na época usar o mesmo nome que o seu mestre.

A ligação não era um nome de grupo, nem um logomarca nem um desenho. Era uma ligação era pessoal mesmo, mestre discípulo. Tanto que Mestre Sarará era Casa de Capoeira Sarará, o Mestre Bolinha, que é da minha turma também, era Capoeira pè pro ar. Nos em Guaratinguetá éramos Conceição da Praia em homenagem ao meu avô Ponciano que era pai de minha mãe.

São três Poncianos na família: meu avô o pai da minha mãe, meu irmão Mestre Ponciano e meu filho, Ponciano. Quem se chama de Poncianinho.

Mais todos tem até o mesmo nome. Meu Avô Ponciano Carlos, meu irmão, Ponciano Carlos e meu filho, Ponciano Carlos. Só que chamamos ele Poncianinho para diferenciar porque os dois são capoeiristas.

Como foi o processo de fundação do seu grupo Barracão?

Eu tô até colocando isso na parede para mostrar as fases que a gente passou. Minha história de capoeira.

Primeiro foi o Trendir, que não tinha um nome oficial, mas chamávamos Grupo de Capoeira de Guaratinguetá. Porqué s´po tinha ele.

Depois eu fundei junto com o meu irmão a Associação de Capoeira Conceição da Praia, porque o meu avô Ponciano era de Paraty e lá ele era pescador. Não era profissional mas ele pescava, e eu vi uma vez que Conceição da Praia era a protetora dos pescadores em Bahia.

E aí eu coloquei o nome em homenagem ao meu avô que foi o primeiro Tunan. Não era sobrenome mais sim apelido. Inclusive hoje o mestre Primo faz um evento Tunan em homenagem ao avô dele que era o filho do meu avô.

Teve esse Grupo de Capoeira de Guaratinguetá, depois a Associação de Capoeira Conceição de Praia e depois quando eu me formei no 88 eu falei com Mestre Suassuna e ele permitiu.

Ninguém usava o nome, só o Mestre Suassuna. As pessoas se formavam cada um tava no seu próprio grupo. E era assim em todos os grupos de capoeira. que que tenha conhecimento naquela época.

Só o grupo Senzala usavam o mesmo nome.  E para dizer a verdade, se tenho que ser sincero, foi inspirado nisso que eu resolvi usar. Porque eu conhecia o grupo Senzala através do mestre Suassuna e a gente fiz uma boa amizade com o Mestre Gato, o Mestre Peixinho, Mestre Garrincha, Sorriso… toda aquela galera que eu conheci naquele momento e alguns que eu vim conhecer depois.

A gente fiz muita amizade. Eles ião para o meu batizado… inspirado nisso eu pedi pro mestre Suassuna, ele permitiu. Assim que eu voltei, em seguida, eu me formei no final de semana e na segunda feira eu já fui atrás de mudar e tudo mais.

E o Mestre Espirro também, junto comigo quando ele voltou para Ceará ele colocou. Os dois primeiros membros do Grupo CDO foram eu e o Mestre Espirro.

Até o Mestre Ponciano ainda ficou uns dois ou três anos usando Conceição da Praia e eu CDO. Eu fundei a academia CDO em Guaratinguetá no 1988 mesmo. E depois dums 2 o 3 anos quando outros capoeiristas já tinham aderido aí o Mestre Ponciano também passou.

E hoje o Mestre Ponciano é CDO de Guará.

Nesse momento da história você dava aula para os adultos e o Mestre Ponciano nas crianças, né?

Foi bem no começo, bem no princípio do trabalho. Depois já teve as divisões.

E depois de, eu acho que 2013, mais o menos eu falei com o Mestre Suassuna porque eu mudei um pouco a maneira de pensar, as mudanças foram mais filosóficas.

A capoeira CDO teve algumas mudanças, né, que é natural que o Mestre Suassuna sempre teve esse processo muito criativo e sempre de pegar novas ideias e trabalhar novas ideias, assim como surgiu o miudinho.

Então, eu, para não ficar em discórdia dentro do grupo, eu falei com o Mestre e ele permitiu. Eu comecei com Barracão, que primeiro se chamou Barracão do Vigário porque a rua se chama Rua Vigário, a rua do barracão. Mais um dia conversando com Mestre João Grande:

Mais o local é seu? não é? E se um dia você sair de lá como é que vai ficar, barracão do que?

E aí pensei, ei, tem sentido. E aí ele falou: Coloca Barracão do Mestre Antônio.

Mais eu ficava muito forte porque ficava muito próximo do Barracão do Mestre Waldemar.

Já teve um assim, né? então aí eu falei Barracão da Capoeira. Porque a gente faz capoeira lá, e não tem rótulos nem de angola nem de regional.

A gente faz a capoeira que eu acredito, que o meu mestre, e com as influências de outros grandes capoeiristas que a gente teve contacto e aprendeu coisas também. Aí, nessa data, eu passei a usar o Barracão da Capoeira mas eu não troquei de mestre, não troquei de grupo.

Eu estou seguindo um caminho e em verdade é uma volta aos origens de como era antigamente.

Quando você se formava você usava outro nome, mas ainda continuo com o Mestre Suassuna que é o meu mestre. Eu não troquei de mestre.

Tem uns mestres bem amigos como Mestre Brasília que é o meu padrinho de capoeira, né, e é bem próximo. E também é um dos fundadores da CDO, muito amigo do Mestre Suassuna, então na falta do mestre em algumas situações o mestre Brasília também me ajuda, também me apoya.

Você estava lá quando a ideia do miudinho surgiu, a ideia um pouco de desenvolver esse jogo, de criar essa coisa, pode explicar um pouco como foi?

O entendimento que eu tenho hoje, quando eu fico olhando pro passado, é que a preocupação do Mestre Suassuna era resgatar uma capoeira que estava se perdendo, um tipo de jogo que é o jogo de dentro.

Resgatar uma capoeira jogada mais com sentido de jogo mesmo não de apresentações em solo. Ele falava que os capoeiristas estavam jogando muito longe um do outro e que parecia que eles estivessem fazendo um solo.

Ele queria que a gente jogasse. Falava algumas coisas como, imagine duas crianças dentro do útero da mãe jogando capoeira, imagine ninho de cobra, ele falava o 2×2. Então cercava um espaço bem pequenininho, e aí fazia a gente jogar lá dentro, né?

Até a primeira vez quando eu conheci o mestre Suassuna foi uma coisa assim também. Quando eu cheguei na sua academia por primeira vez, antes de ter essa coisa do miudinho, ele cercou um pedacinho pequeno no primeiro dia e ele jogo com a gente, e bateu na gente.

Cabeçada, rasteira, bam… (a meia lua do mestre) e uma das coisas que dizem: aqui quem manda sou eu.

Mais a gente chegou lá com a intenção de aprender mesmo porque a gente era bem novo.

Voltando com a história do miudinho essa era a intenção dele, de resgatar alguns movimentos de mestres mais velhos que ele viu, que ele conviveu no passado na Bahia. A ideia era assim que o miudinho fosse um jogo mesmo, e ele tinha uma parte de ensino de sequências, de ginga de balanço.

E daí desses balanços entrava aparte de baixo, as descidas, o balanço da ginga e a gente descia e combinava algum movimento de chão.

Ele treinou, passava também sequências em duplas, sequências de ataque e defesa de trabalho de chão para que a gente depois jogasse tivesse a capacidade de trabalhar no chão.

Que é que o senhor acha das diferenças de Angola e Regional?

A gente não pode negar que tem algumas diferenças de ritmo de formação de instrumentos até de ideias de jogo, né? mas a Capoeira Angola e mais o menos, entre aspas, tem uma parte lúdica mas é perigosa né, é uma coisa que engana, aquele sorriso no rostro que você não sabe o que está por trás dele.

Mais usando as palavras do Mestre Canjiquinha: A capoeira é como um salão de baile você tem que saber representar.

Então é tudo capoeira, Capoeira Angola é capoeira, Capoeira Regional é capoeira, Capoeira Contemporânea é capoeira.

A diferença é que tem ritmos diferentes, formação instrumental diferente, alguns cantos diferentes, né? A ideia também do jogo tem algumas diferenças mas são coisas que não faz uma ser mais ou menos. O eficiente e bonita.

O capoeirista é quem dá essa beleza e essa eficiência para a capoeira, seja angola, seja regional seja contemporània.

Você já formou vários Mestres. Quando você forma um Mestre ele não deixa de ser “aluno” o parceiro com você. Como é que muda essa guia o essa ajuda na caminhada?

Eu procuro fazer lá no Barracão que esse relacionamento ser verdadeiro, até mesmo quando eu parei de usar o nome CDO, to aquí na CDO feliz com vocês, me sinto super bem tratado, então como eu parei de usar o nome os meus alunos quando se formam Mestre.

Eu tenho 4 graduações de formado: Instrutor, Professor, ContraMestre e Mestre.

Quando é Mestre já é Mestre, não tem grãos, quando ele formou mestre ele pode montar o seu próprio grupo, ter o seu próprio trabalho o ficar usando o Barracão.

O Barracão tem algumas normas, regras de graduação que ele tem que seguir. Se eles quisessem fazer alguma coisa pessoal que difere disso ele pode usar outro nome assim como o Mestre Casquinha usa Apeiara, tenho um aluno em São Paulo que usa Capoeira Batuque porque precisa de graduação, cordão, o Poncianinho usa Mojubá. Mas ele fica sempre: não pai, fica Barracão Mojubá, mas eu faço a roupa dele e fico só Capoeira Mojubá.

É o trabalho dele, a identidade dele.

Eu procuro esse relacionamento ser verdadeiro, sincero e com a liberdade da pessoa ter essa expressão, se expressar do seu jeito e isso faz que o relacionamento fique muito próximo sem uma cobrança.

Então os meus alunos nunca vão deixar de ser os meus alunos assim como eu nunca vou deixar de ser aluno do meu mestre. É uma ligação que fica, é como um filho que nunca deixa de ser filho dos seus pais. Por muito longe que fique nunca vai deixar de ser filho dos seus pais.

Eu procuro dar essa relação de família mesmo lá no Barracão para que as pessoas entendam isso, que se pode estar fazendo um trabalho separado como esse aluno meu de São Paulo.

Ele tem que dar cordão porque trabalha em 3 escolas e a diretoria da escola exige cordão. Mais eu vou lá, faço o evento dele sem preconceito nenhum pros cordões, ele me apresenta como o mestre do evento, como mestre do grupo dele, como o mestre dele e a gente tem um relacionamento muito tranquilo, muito verdadeiro sem problema algum

Esse link nao pode acabar, você tem que ter sempre esse link. Não da para você quebrar isso, isso fica sempre

Você tem muita preocupação pela música, Pesquisa muito. Eu gostaria que o senhor falasse do que é a musicalidade dentro da capoeira o do que é para você

Eu tenho uma frase, não sei se alguém já escreveu isso mas, eu escrevi que a música para mim é a alma da capoeira.

A música é uma das coisas que difere a capoeira como só luta. A música por exemplo e os instrumentos eu acho que foi o que ajudou a capoeira manter até hoje.

Porque no começo a gente sabe que tinha mais o menos tres tipos de capoeira, aquela capoeira do Rio de Janeiro, aquela capoeira de Recife e os chamados Capoeiras. E a capoeira da Bahia.

São as cidades portuárias onde chegavam os escravos, os negros, os navios negreiros. Mas aquela capoeira que existia em Recife, daquela época, os escravos chegando não tem mais. E a do Rio de Janeiro já também não tem mais.

O que tem hoje según o meu entendimento é a capoeira de Bahia, de uma forma o de outra, com essa musicalidade, instrumentação, ritual.. é da Bahia.

E eu acho que eu entendo que isso foi o que não fez que a capoeira da Bahia escapasse também. Porque a capoeira era reprimida. Mas aquilo era música, estavam tocando, cantando.

A música tem muita importância dentro da capoeira. Uma dessas importâncias é que ela manteve a capoeira até hoje. Tal vez se não tivesse essa musicalidade na capoeira da Bahia pode ser que a gente não tivesse Capoeira hoje. Porque foi tão reprimida que ela ficar só como luta que ela poderia ter acabado.

Esse é o meu punto de vista. A música dá entendimento de capoeira, de roda, de jogo e de vida para a gente. Tem muitas musicas de capoeira que passam lição de vida para a gente.

A música, ela tem vários pontos assim muito importantes.

Você pode até por exemplo, acalmar uma situação na roda com uma musica, o você pode botar fogo, dar lenha a fogueira.

Acho que a música a palavra mais para expressar melhor o que eu sinto e isso: A música é a alma do jogo da capoeira.

Você tem alguma música preferida?

Eu não tenho uma música assim preferida eu acho. Mas eu tenho um cantador preferido que é o Mestre Waldemar.

Todo o que ele canta para mim é fantástico, o jeito, o ritmo, a emoção, o sentimento que ele coloca na música, para mim Mestre Waldemar é a inspiração maior em termo de canto na capoeira.

Você organiza um evento que tem um nome feminino. Poderia explicar um pouco o nome e porquê?

O tema é feminino mas não é um evento feminino. Porque a gente, é legal explicar isso porque, eu entendo que se eu fazer um evento feminino é como se eu fizesse uma roda só de mulher.

E uma maneira de eu discriminar, dizer que a mulher não tem capacidade de estar juntos., né? No meu punto de vista a mulher tem muita capacidade. Na minha academia as mulheres, por exemplo, agora quem está mais na frente na minha academia são mulheres. Tem também homens mais as mulheres são quem estão bem na frente mesmo.

E esse evento se chama Anastasia, ela foi uma escrava que virou mito, virou santa. Aparece uma e depois dela apareceram outras Anastasias também.

Ela era muito bonita e muito assediada pelo sinhozinho e maltratada pela sinhazinha por ciúmes. Então até a foto dela é chocante. Tem aquela mordaça na boca.

Ela virou um símbolo de resistência contra a agressão, contra o assédio, para nós ela é o símbolo. Representa a força da mulher porque ela não cedeu, ela apanhou, sofreu, morreu mas não cedeu. E ela serve de exemplo.

Esse evento a gente faz lá são as meninas quem organizam e são elas que dão aula. A gente sempre leva uma mestra o uma contramestra visitante para passar a experiência mais é aberto para o todo mundo. Os homens só tem direito de fazer aula. Só tem direito de bater o pau, de responder o coro.

A gente fala também de temas sociais como a lei Maria da Penha, ela é uma mulher que foi muito agredida, maltratada pelo marido. Parece que ela teve duas ou três tentativas de assassinato do marido e para o julgamento o cara saia libre.

O caso dela foi levado até a ONU, a ONU fez uma pressão no Brasil e aí saiu essa lei Maria da Penha e hoje tem delegacia da mulher, elas são bravas. Eu não gostaria cair na mão duma delas.

Por causa dela tem essa lei, a gente fala dessa lei, a gente leva pessoas que tem que trabalham com assistência social também e a gente quer tocar o dedo na ferida. Porque ali tem alunos, têm pais de alunos… a gente chama muita gente para essa palestras.

Não vem muitas pessoas mas a gente chama um monte de pais, de maridos, de namorados, de irmãos, para poder, eles tem que estar ouvindo isso.

No Brasil parece que cada 5 o 10 minutos uma mulher é agredida ou morta.

É muito forte.

Para os caras por exemplo, a mulher separa dele e o cara bota fogo na casa com a mulher dentro, ele mata a mulher e joga os filhos do viaduto… entra no trabalho da mulher e descarregou um revólver nela. É um tema forte mas a gente quer falar, quer mostrar que a gente é contra e que todo o mundo tem que lutar contra isso.

É um evento cultura também, a minha filha Fabiana sempre dá uma palestra. a gente sempre tenta ligar essa palestra com temas da história do brasil ligados com a capoeira. Teve um muito legal que foi a mulher no cangaço.

Foi sobre a Anésia Cauaçu que foi uma cangaceira que não era a mulher do cangaço, ela era A cangaceira, ela era a chefe, era o Lampião do cangaço.

Ela batia nos homens com movimentos de capoeira. Foi um tema interessante. Cada ano a gente pega um tema ligado a uma coisa assim que tenha a ver com a história do Brasil, algum link com a capoeira e que passe alguma mensagem da valorização da mulher.

O Jongo e a Samba são outras dois manifestações culturais muito próximas na capoeira. Eu sei que o senhor também é bem conhecedor

Eu quero muito um dia trazer o Mestre Zequinho aquí, que é o mestre do Jongo de Guará. Heredero da ancestralidade do jongo.

O jongo é da região do sudeste, alí do vale da paraíba, em rio de janeiro. O jongo é uma manifestação cultural afro descendente. é uma festa, ele não é religião. Nos raros momentos que eles tinham, os negros tinham concedidos pelo senhor branco, ele fazia essa, por exemplo depois de uma colheita eles faziam a festa do jongo.

O Jongo do Rio tem uma certa diferença com o jongo de São Paulo no jeito de dançar.

O canto também, como você interrompe o canto. Porque o ponto do Jongo, por exemplo essa é uma diferença até bonita, porque é legal, é cultural.

Pra nois do val da Paraíba o ponto do Jongo é uma mina de água. Que ela brota, o canto né, ele brota e ele vai crescendo se transforma num corre sozinho e ele vai ganhando afluentes, ele vai se transformando num rio grande e depois, o que é que quebra o rio, a Cachoeira.

Então quando você vai parar esse rio, a nascente que a água limpa, só uma cachoeira para parar e então fala: Cachoeira.

Para o pessoal do Rio de Janeiro é uma planta, é um árvore. Então ele nasce e vai crescendo, o ponto de Jongo, que para derrubar a árvore: Machado. Eles falam machado. Isso é uma das diferenças.

É uma dança que não se toca, é o homem com mulher, você não se toca um com outro.Ttem esse respeito porque naquela época estava lá as pessoas dançando e a mulher de um dançava com o marido da outra, era uma coisa de respeito. É uma dança respeitosa, uma festa bem como se fosse família. Todo o mundo ali dançando sem maior intenção e não pode tocar um no outro.

O Jongo tem algumas curiosidades muito bonitas. Por exemplo, o canto do Jongo tem o canto de demanda que tem muitas histórias lá em Guará. Um cantar pro outro e o outro fica paralisado. De cantar e outro cair no chão e de cantar e eu amarro seu canto, se você não tiver resposta para mim você está amarrado e você não participa em nenhum outro Jongo até que você traz a resposta para mim, daquele canto.

E esse é o canto de demanda mas não todo o mundo sabe cantar isso.

Outra curiosidade do canto é que eles usavam o canto para se comunicar.

Por exemplo, a negra trabalhava dentro da casa grande, tinha alguns negros que trabalhavam para fora da casa mais que dormiam nas senzalas. Nem todos os negros trabalhavam só no canavial o no cafezal.

Por exemplo a nega escutava que o sinhozinho ia fazer um viagem. Naquela época os viagems eram longos porque eram a cavalo, com carroça, essa coisa carro boi… ela escutava opa, o sinhozinho vai ficar fora de tanto a tanto. Aí em forma de música ela cantava isso, o cara de fora pegava a ideia e passava nos caras da senzala.

Tudo em forma de música e em sentido figurado que a pessoa, o brando não entendia nada. Falava de animal, da natureza, de coisas que não tinham nada a ver. Por exemplo, o garfo vai voar, (o sinhozinho vai partir) entendeu? A bicharada ficava a vontade.

Era um período para eles combinar uma fuga, coisas assim.

Outro lance bem legal do canto do Jongo é que por exemplo, se imagina uma fileira de café, os cafezais eram muito grandes, na época de ouro do café no Brasil. Então os negros mais velhos ficavam nas últimas plantas porque eles ja não tinham saúde física para trabalhar.

O negro mais forte ficava junto com ele na árvore do lado. Esse nego mais novo colhia primeiro o café do árvore do negro mais velho que ficava descansando, aí ele vinha na dele.

Quando um cara a cavalo chegava lá eles começavam a cantar, o fulano vem vindo em forma de música, de sentido figurado. E aí o pretinho velho levantava e fingia que trabalhava. Eles deixavam uns grãozinhos lá e ele fingia, o cara que passava olhava na árvore dele e via que estava trabalhando que se não tivesse trabalhando apanhava.

Era uma forma de usar o canto para poder ajudar aquele negro mais velho que ja não tinha mais condição de trabalhar. E mesmo se trabalhasse ia apanhar. O Jongo tem todas essas particularidades né.

O Mestre Zequinho sempre fala, o Jongo é festa, o povo negro ele fala que tem três pontos: o povo da cura, que eram os mandingueiros, que era o trabalho espiritual e da cura; o povo do jongo que era da festa, os festeiros gandaeiros; e o povo capoeira que eram os que tomavam conta, esse pessoal que tinha que lutar.

O Jongo é uma coisa muito bonita e a gente faz lá, eu participo do jongo, os quilombolas, toco tambor, dançou, a filha do Mestre Zequinho faz capoeira lá comigo e quem sabe se um dia a gente consegue trazer o mestre para cá na Europa.

Já para acabar, eu gostaria que o senhor desse o seu conselho, o quê que você diria para um capoeirista que está começando nessa caminhada.

A capoeira cresceu muito, né.

Cresceu duma forma, como tudo que cresce de maneira rápida, cresceu duma maneira bem desordenada.

E eu aconselho buscar fontes fidedignas, né, para estudo, pesquisa, porque um capoeirista não se faz do dia para a noite.

Um capoeirista leva anos para ele ter o entendimento das coisas, porque a capoeira é luta também, e dança também, né? e no meu ponto de vista a capoeira é um grande tesouro. É uma grande herança cultural que os negros deixaram para nós.

E muitos desses princípios, conceitos já escaparam entre os dedos da gente, como um pó valioso, a gente tem que fechar essa mão no máximo que puder.

O conselho é procurar fontes fidedignas para o estudo, para a pesquisa, para treinar. Você treinar num lugar que você entenda que aquilo alí é bom para você. E se você quiser ser um capoeirista mesmo, tem que buscar, tempo tudo. Buscar.

Faz 45 anos que eu faço capoeira, que eu treino capoeira, que eu ensino capoeira, e eu tenho a certeza que tenho muita coisa que aprender.

Quando estou com os mestres mais velhos eu aprendo muito. Eu quando comecei capoeira, quando comecei a viajar com capoeira, eu sempre busquei isso.

Eu ia para os eventos eu não saia, eu ficava com os mais velhos. Eu não ia para as chamadas gandaia, no forró, as gafieiras, eu sempre procurei que eu sempre tivesse a sede de querer saber, de querer entender de querer buscar mais.

Conselho que eu dou e isso, se você quiser ser um bom capoeirista, se quiser entender a capoeira, entender o jogo, o canto os instrumentos, tem que estar sempre buscando. E você ter para capoeira essa fidelidade para com o seu mestre, fidelidade para com seu amigos de treino, fidelidade para com a capoeira em si.

A fidelidade para mim é um sentimento nobre, você ser fiel a alguma coisa. E eu sou fiel aos meus cachorros porque eu sei que eles são fieles para mim. Se alguém vem me atacar, alguns deles já me defenderam. Então fidelidade é uma coisa que é importante demais.

Busque sempre e tenha fidelidade com a capoeira.

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3 comentários em “Entrevista Mestre Zé Antonio – Barracão da Capoeira”

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