Quem é o Mestre Bolinha?
Aparicio do Nascimento, também conhecido em Minas como Bola 7 e no Brasil tudo como Mestre Bolinha.
Ele foi um dos primeiros formados do Mestre Suassuna no grupo Cordão de Ouro. Hoje em dia é um grande músico quem tem a sua residência em Itacaré onde faz um show de música cada semana.
Ele começou a sua caminhada musical no 1964, uma caminhada que lhe levou a se encontrar com Dirceu, foi ele quem lhe fiz conhecer a Capoeira com Mestre Brasilia no 1969.
Quando chegou na capoeira nunca mais parou, sempre enriquecendo ela com as suas músicas e os seus valores foi muito importante na elaboração do show Dança dos Quilombos que o Mestre Suassuna apresentava nessa época em São Paulo.
Nós tivemos a sorte de lhe conhecer e poder lhe fazer uma entrevista.
Muito obrigados Mestre, sem palavras pela sua disponibilidade e carinho.
Faça click para ouvir a entrevista com o Mestre Bolinha
Entrevista a Mestre Bolinha – 15 de Novembro de 2016
Para começar a gente gostaria de saber quando e como o senhor começou na capoeira
Quando, né?
Bom, eu comece capoeira em 69, em 1969, no século passado com mestre Brasilia. Eu me virei músico profissional em 1964, já vivia, mexia com a música de garoto. Me mudei em São Paulo trabalhar, numa cidade de interior perto da minha terra. Eu só de Cruzeiros no estado de São Paulo. Fui para capital e comecei a trabalhar de noite com a música, estudava na escola municipal e na fundação de arte San Caitano e tocava de noite nas boîtes, aí pintou uma possibilidade de gravar. Eu fazia a gravação de um amigo que ele era muito solicitado para gravar, tinha dois lugares para gravar e ele falou para mim, falou: olha, quando tiver dois lugares para gravar você vai e faz um para mim, você não entra na folha mais recebe o pagamento.
Seu nome não vai escrito lá mas o pagamento e seu, porque naquele dia você faz para mim e eu faço em outro lugar. Aí eu conheci um baterista muito importante brasileiro, teve entre os 10 melhores do mundo, chamado Dirceu que fiz os primeiros discos com o mestre Suassuna. I aí o Dirceu me falou, eu treinava judô na época: Bola po, você é negão e quer fazer esporte de japonês e gringo, vem na capoeira, você e músico tem música e tudo. Aí eu foi e o primeiro jogo que eu vi foi um jogo de Mestre Brasilia e Mestre Suassuna, aí me apaixonei e praticamente abandonei o judô. Eu estava apaixonado treinava todo o dia das duas da tarde até as deis da noite, viciado né, tava bem, técnico tava na faixa roxa eles iam me passar para faixa marrom, tava derrubando todo o mundo na academia, tava bem treinadinho. Aí abandonei praticamente o judô e fui para capoeira, forçamos amizade ainda o Suassuna, ai fui comece treinar com Mestre Brasilia. Eu saí, viajei, fiquei três meses fora e quando voltei não encontrei mais o Brasilia no lugar onde ele tava. Aí descendo a avenida encontrei o Dirceu que falou: o Suassuna está ali na Federico Esteiras você desce assim, a academia tá no lado direito num predinho e no lado esquerdo tem um biquinho ali onde a minha mãe mora (a mãe dele tinha uma pensão ali onde moravam muitos músicos). Aí comece treinar no Suassuna. Na minha época era Tarzan, o.. a primeira turma que tava vindo de Itabuna e eu comece treinar ali, oi eu apanhei demais, foi muito puxado mas aí nunca mais também sai da Cordão de Ouro. Viajei com Brasilia, fique seis meses em Japão com ele, viajamos para os Estados Unidos juntos, eu continuei na Cordão de Ouro e tó até hoje, tó desde o 70
E quem é o seu Mestre, é o Mestre Suassuna?
E o meu Mestre e o Suassuna, o primeiro com quem treinei foi o Brasilia mas o meu Mestre e Suassuna, sou formado do Suassuna
E como é a sua relação com o Mestre?
Muito boa, nós somos amigos, fizemos musica juntos, viajamos vários lugares juntos… não cheguei viajar com o Suassuna pro exterior mas no Brasil nos estamos em todas partes participando de várias cosas. Eu gravei vários discos dele. O ultimo que eu gravei e um que tem a bandeira nacional na capa, vocês devem ter por ali, e a produção minha, direção minha… eu fiz vários trabalhos
Eu gostaria também que o senhor explicara para gente: quando vocês criaram a música de Capoeira para estrangeiro, porque surgiu a ideia
Capoeira é ligeira
Porque naquele tempo ninguém, poucos capoeiristas viajavam para cá, e vocês quando iam para lá tinham os tics da cultura, das suas, não da nossa. Eu falei, ah, praticamente ficava faltando alguma cosa então pos a gente dizia pelo capoeirista que é. Foi um tema que eu ouvi na época, um cara falou: capoeira para estrangeiro é mato. Eu estava em um período fértil de composição, tava fazendo várias músicas. Eu nunca fui compositor, mas eu comecei a trabalhar com una pessoa importante, um poeta importante na música brasileira, e ele começou a fazer umas letras para eu botar a melodia. Ele tinha um jeito todo especial que era que ele dizia que a música tava no ar, a melodia, o tema de compor tá no ar e se você teve espiritualmente legal, você recebe a mensagem. Eu acreditava nisso, eu só espirita praticamente. Eu tava num período bom de fazer música, tudo eu anotava tinha um caderninho, uma propaganda um negócio uma palavra diferente que o cara falava no meio da turma e, aí, eu anotava tudo. Aí a pessoa falou para mim, não sei para quê, que capoeira para estrangeiros era mato, porque os estrangeiros ainda não sabiam de capoeira. E eu desenvolvi um bom trecho do tema. Aí nesse mesmo tempo o Suassuna tava desenvolvendo a “se não fosse escravidão” ai nós juntamos, eu ajudei ele desenvolver “se não fosse escravidão” e ele ajudo desenvolver a “capoeira para estrangeiro”, ai nós fizemos uma parceria: ele ficou parceiro na minha música e eu fiquei parceiro na música dele, aí nós gravamos, foi muito bom, acho que vende até hoje
Qual é a sua música preferida, tem uma que você gosta mais?
Quando você começa fazer música, você gosta daquela que tá fazendo, ai vem outra e você gosta da outra, vem outra e assim… você vai gostando. Não tenho muita música preferida, não, tem as músicas dos locais do show, né? pra fazer a abertura eu prefiro duas uma é, que é “o navio negreiro” né, é um compasso composto, e aquela que eu cantei primeiro lá que é a “historia da senzala” com as que eu fazia a abertura dos espetáculos. Nos tínhamos um espetáculo que se chama Dança dos Quilombos, e eu fazia a abertura com ela que era uma preparação pra eu fazer um texto, um monologo, um poema sobre a capoeira no Brasil, sobre o Brasil todo e Baiano, que o Brasil nasceu na Bahia. É um texto de esse meu parceiro que é um dos grandes poetas do Brasil. Eu fiz algumas adaptações pra passar pra capoeira, pra poder falar do Mestre Bimba, do Mestre Pastinha, entendeu? E esse meu parceiro já tem uma música que foi gravada mais de 104 vezes por cantores, são 104 cantores diferentes, se chama o “Último pão de Arara”. Pão de Arara era um caminhão que saia do Nordeste, quando no Nordeste dava o verão fica ressecado, não chove quase, então as pessoas vão abandonando a cidade. Naquele tempo não tinha recursos, hoje melhorou os recursos, então, o pessoal sai de ônibus. Mais naquele tempo saiam de caminhão, e ele diz que tava saindo num desses caminhão últimos, a terra seca, os bois morrendo, bichinhos morrendo, não chovia e todo o mundo queria vir pra capital. Ele diz que já tava no caminhão pra vir embora, encima do caminhão com a poeira com tudo e aí, quando ele, um cara que tava ao lado dele, falou: ei Fulano, o cara tava em terra né, tava no chão, e eles no caminhão para ir embora para capital. O cara falou: o Fulano vamos embora, vai ficar aí, não chove, tá seco demais, vai morrer ali, vamos para capital. Aí o cara que tava no chão, falou para ele: não, eu não vou embora, só vou no último Pão de Arara, que o Pão de Arara era o caminhão para sair. Aí ele anotou o testo e fiz o poema “só deixa o meu cariri no último Pão de Arara e ficou essa música, que marcou ele. Era um grande poeta, fiz muitas cosas boas
Como surgiu a ideia de criar o show da Dança dos Quilombos
Bom, era para ser ter sido antes um show chamado Rasteiras e Baianadas, a gente tinha conversado mas o menos tal e, aí um timos bailarinos que trabalhavam com o afro em São Paolo, o Suassuna localizou um deles, que era o Jurandir, e aí o Jurandir começou a montar, o Suassuna começou a montar, começamos a montar, e tínhamos uma ideia, mais um tema musical como será tal. Esse cara é um coreografo muito bom do Teatro Municipal e falou: Suassuna, eu vou montar uma coreografia para você, e o Suassuna aceitou e ele veio e montou a coreografia com o grupo. Nós fechamos unos vinte, acho vinte e poucos, aí todo o mundo fisicamente bem treinado, ficou boa a coreografia demais, ficou linda. Os primeiros shows ficaram uma coisa maravilhosa. E aí me veio a ideia de fazer as cortinas, e cada quadro que tinha, eu entrava no meio enquanto o pessoal se preparava, trocava de roupa e tal, e eu fazia um tema. No caso da abertura do espetáculo, o tema era Dança dos Quilombos, que é a história da Senzala: no tempo de chão de barro… aí eu fiz um testo que nós todos somos baianos, falava dos poetas baianos, o Rui Barbosa o Cabriola de inglês na Inglaterra, falava todo e depois fazia uma junção com a capoeira né, capoeira que corre no meu sangue, mestre pastinha, o shaolin da arte marcial brasileira, aí fiz uma adaptação e usava no show. As outras partes dos quadros, eu cada quadro que tinha, cada dança que tinha, eu entrava fazer uma cortina com uma música o um poema. Ah, na parte da puxada de rede eu fazia essa música que eu cante, essa de: a minha jangada…, aí eu fazia também um poema e depois vinha a capoeira e eu fazia também uma música que eu cantava lá de Vinicius Morais e Baden Powell que é: o homem de bem não trai, não trai… eu fazia falado, depois fazia musicado e ai entrava o Suassuna, berimbau, e: eee tal aí, depois nós fazíamos um Preto Velho, que fazíamos muito engraçado, era muito bom. Mais aí como passou o tempo montou o show e o preto velho fechava, depois a gente pegou um teatro, trabalhamos nesse teatro bastante tempo o grupo todo e chegou a formatura. Deu para fazer algumas coisas mas depois foi dispersando, um foi para faculdade, outro foi para dar aula, outro saiu da cidade… nós somos muito considerados, tanto é que somos o grupo de referência da boa amizade né, e eu fico muito contento por isso. Por exemplo ontem nos estávamos lá e o Poncianinho, a gente criou o Poncianinho dês de pequeno, nós aqui. O pai e o tio dele (Mestre Zé Antonio e Mestre Ponciano) é formado conosco. As primeiras formaturas nos íamos lá, para cidade deles, e ele era um filho do tamanho do do Boca, assim nós, desde pequeno fumos criando. Agora passa vinte cinco o vinte anos o mais, aí tá tudo o mundo na base dos trinta, aí eu vou, viajo, saio do Brasil, vou para…, venho para Espanha chego aqui e encontro o Poncianinho com aquela autoridade e, me emociona muito. O tempo passa né, eu não o sou criança mais, sou um cara velho e eu fiquei muito contento com a evolução do cara, e ele tá muito bem preparado tanto jogando como falando, pois para mim é uma riqueza danada, Boca moleque que a gente viu lá. Na Cordão de Ouro acho que eu sou um dos alunos mais velhos, da Cordão de Ouro, não tenho jogado Capoeira mas quando volte, vou treinar um pouquinho para ver se eu tiro essa barriga, só para brincar um pouco
Eu gostaria de saber qual eram as danças que apresentavam no show Dança dos Quilombos
Bom a abertura era a música, um texto, um monologo, depois era a dança do fogo com as torchas, depois da dança do fogo, entrava a dança dos guerreiros, depois entrava o maculelê e aí, o depois do maculelê era o preto velho, o que a gente fazia e depois do preto velho entrava a capoeira, a gente fechava com a capoeira
A puxada de rede chegou em algum momento a entrar no show
Noo, a puxada de rede era uma das partes principais do show. A nossa puxada de rede era muito bonita, e no final o Suassuna falava o nome de todo o mundo: O fulano veio, não veio não, O secano veio, não veio não…, o nome do João Grande que tava na plateia… era muito legal
Eu gostaria muito se o sinhô pudesse falar um pouco do o que é a puxada de rede como e porque chegou na Capoeira.
A puxada de rede á a dança dos pescadores quando voltam do mar com os peixes. É muito peixe, muita tonelada, então, juntavam em grupos para poder tirar o peixe dos barcos. Para tirar o peixe da água botam uma rede grande e deixam marcada, a rede que os, Mestres do mar, os caras que mergulham aviajeitan a rede e depois sai da água e deixam um certo horário. As vezes de um dia pra o outro não sei exatamente se deixam de um dia para outro, mas deixam um certo horário, e depois quando os caras vão pesquisar as redes vem a batida do peixe. E para isso então, eles começam puxar que e o chamado arrastão, aí vão puxando junto e com essa turma de gente aí a rede vai trazendo os peixes todos. Quando chega na beira do mar é pesada e do jeito que a gente faz no palco, é o estilizado né, e improvisado né, invade a parte artística, mais na realidade é peso, é muito peixe. O pessoal puxa e o distribui, os que tem para vender tiram para vender, mas distribuem o peixe entre o pessoal. Então essa é a chamada puxada de rede, o arrastão, mais no palco e amenizado e entre as músicas danças. A forma de dançar, que eles faziam isso para superar o peso que tavão carregando. Todo o trabalho eu não sei, mais acho que todo o ser humano que trabalha no campo o que trabalha no seu responsável ele sempre tem um tema para distrair a cabeça e para carregar o peso e um pouco mais pobre. Mas pobres entre aspas, porque um pescador para mim e um cara rico, porque ele não precisa de ninguém ele entra na água e joga a rede pega o peixe, a comida e já tira. Eu moro em una aldeia que moram vários pescadores, em Itacaré tem o rio e tem o mar, lá tem muitos pescadores, as pescadarias tão perto da minha casa e trabalham com camarão, trabalham com tudo e tinha as mulheres que vão pescar no riu. Então a puxada de rede em realidade e um trabalho, a colheita do peixe.
A música é uma parte muito importante da capoeira, mas é verdade que tem gente que tem mais dificuldades pra aprender porque por exemplo aqui, fora do Brasil, também tem a dificuldade do idioma tem que aprender tem que entender e muitas vezes as músicas tem essas partes muito culturales… Qual seriam as suas dicas o como a gente pode vencer essas dificuldades que a gente pode ter com a música
E, vocês têm que praticar com o idioma, i observar pro mestre quando dá aula, tem que observar bastante o idioma procurar entrar bastante no idioma, porque a nossa língua, essa dificuldade que você sente e a que vai dar próceis os fundamentos que vocês tão treinando. A traveis do que eu falo, do que o Boca fala, o Mestre tal o tal fala, é que vocês vão pegando as palavras vai entrando aí. Como você está fazendo que é isso é isso, que é aquilo é aquilo.. porque a linguagem do português vai fazendo vocês entrar ainda mais na capoeira, saber o que é que é a capoeira. Nós também não sabemos, falta muita cosa mas ela sabe que ela e muito grande. Ela e história, música, dança, geografia, é baile, é troca de informação, é astucia, é segredo, ao mesmo tempo a capoeira é eloquente, tem o leque de coisas que tem hora que ela e abstrata, tem divisão de alguma cosa da música o praticamente dela mesma, ela tem uma linguagem toda sofisticada. Eu acredito que ela vai ser o esporte do mundo, porque você não precisa brigar na capoeira, não precisa dar pancada pra entender como funciona, então, é uma brincadeira muito sadinha, quando se joga, brinca, vai horas e horas e horas, joga boa e você está aprendendo, como foi colocado ontem lá as pesquisas do jogo do corpo, então, é isso o que alegra a gente porque todo ser humano quando você ameaça de bater, o cara se defende e na Capoeira você está sempre ameaçando né, e fora as negaças nega né, é um jogo de vida eu acho. Porque na vida as vezes você tem que enfrentar, e as vezes tem que negar, e a capoeira ensina muito isso i é legal. Eu na minha concepção acho que um médico capoeirista ele é mais rápido do outro que não é, mais rápido de astucia, de percepção, entendeu? Ontem a gente teve a conversa lá, do bombeiro que é antigo e de repente chega numa situação nova e ele tem que ser rápido, né?. A situação de capoeira para mim e a mesma cosa, então, vocês vão saber muito bem, vão conhecer bem o Brasil a traves da linguagem da capoeira porque você tem que entrar na língua mesmo, você sabe alguma coisa, né? Eu quando eu fui para o Japão, eu queria cantar em japonês, mas não tinha como. Aí alguém começou a me dar umas dicas e nas conversações eu pegava um pouquinho, aí eu fiz um repertorio de quatro o cinco músicas, e era muito boa, o pessoal gostava porque eles tavão querendo saber, vocês estudam, mas se falam só umas dicas é diferente, então, no caso vocês tão no caminho certo e vocês tem uma cosa que nós, que nós plantamos na capoeira e o nosso grupo praticamente plantou na capoeira, que é a amizade. Treina, fica bom de capoeira, mas faça sempre amizade sempre sorrindo, sempre amigo, nada de cara emborrada pra dizer que sou melhor que… nada disso, tem um som lá pra se descontrair, pra crescer na vida na alma, a gente não sabe o que que tem lá no lado e lá, né? Então, tem que crescer como homem, respeitar o companheiro, respeitar o Mestre, respeitar o ambiente que você trabalha e, o homem respeitar as meninas, as meninas respeitar os rapaz, porque tem que formar um clima de família que é pra crescer. Tem uma brincadeira, tem a sacanagem da brincadeira também mais tem as nossas vidas né, o nosso relacionamento de familiares de amigos, o nosso grupo foi, era dançarino era festivo, era brincalhão, na época que nós formamos os caras que tinha verde ah, vão formar os bailarinos do Suassuna, mais os bailarinos era um problema quando chegavam. Até hoje né, tem, se você tiver numa roda com a camisa de cordão de ouro, alguém vai jogar pro cima de você pra ver se você é mesmo né.
E aí o pessoal mais antigo iam, quando tava progredindo, formando a nossa capoeira: o que e Cordão de Ouro fica, quem não, vai embora que o bicho Papão vai comer agora e.. era uma forma pra incentivar a gente pra gente estar preparada, então, você tem que estar bem preparado, bem treinado e ser simpático com todo o mundo que não no contrário, as vezes determinados grupos que o cara quando treina acha que é melhor que todo o mundo, os braços.. o Cordão de ouro é um grupo distraído e que dança pra caramba, de brinca eeee, então isso é legal, a gente vai formando amigos porque quando eu entrei jovem a circunstância era uma, depois que você envelhece, ter amigos é uma riqueza chegar aqui estar com o povo novo, conhecer vocês, ver todo o mundo novo, as crianças porra é uma riqueza, não é? Isto é relacionar com as pessoas né? Só nós seres humanos que falamos, que pensamos.
Agora aqui a gente tá vivendo um clima ótimo que é muita parceria com muitos grupos de capoeira que não tem porquê jogar a mesma Capoeira o mesmo estilo, mas a gente tá fazendo uma troca que é muito interessante. Sempre foi?
Não, no meu tempo, não. O negócio era bem fechado, eu ia no seu grupo pra… (pra dar porrada), outro dia ia no outro grupo… eu fui em várias reuniões pra organizar a Capoeira mas no fim só saia confusão, um achava isso, o outro aquilo um dum lado o outro pro outro. Agora tó achando muito legal essa coisa, você não é obrigado a jogar na Cordão de Ouro, ser amiga de um fulano de tal você pode treinar com outro grupo outro patrono, outro grupo. Mais quando nós encontramos vamos fazer uma festa, vamos fazer uma brincadeira. Eu não preciso quebrar a sua cara nem você a minha, entendeu? Então que é o que nós vamos fazer, vamos brincar, vamos trabalhar a movimentação mais perto, mais chegado, mais objetiva, mas sem intenção de quebrar a cara do outro. Não precisa isso, o esporte é muito rico, te dá tudo. Da música como eu falei ele e um leque de coisas, então nós devemos aproveitar isso. Eu tenho tido muitas coisas boas aqui, os grupos são diferentes aqui mas todo o mundo se respeita, né? Então, no primeiro lugar ta isso né, o respeito né. Se você me respeitar eu respeito você, a nossa amizade pode ser muito grande amanhã, podemos usá-la como negócio, como família. Então essa linguagem de falar aqui que o pessoal aqui ta se dando bem, o cara ta vindo de outro grupo e tal, mais você tem que ficar sempre experto né, não sabe o que a pessoa ta pensando, mais é positiva essa colocação. Porque eu conheci gente de vários grupos, eu andei muito, fui em muitos lugares. Aquele menino que tava aí ontem que era de Senzala de Santos (Mestre Ediandro) bom eu conheço o mestre dele, tem o Beija Flor que ta lá na França que mandou um abração, a gente conversou muito; agora faz tempo que não vejo ele, muitos anos. A gente conversa muito, a gente de Santos tem um bom nível de como pessoas, quase tudo o mundo tem grado superior, e esses que não tem também são muito bem criados e um lugar bom, de grandes capoeiristas, então eu fui muitas vezes lá, as vezes eu fui sozinho as vezes com o Mestre Brasilia, fui algumas vezes com o Mestre Suassuna. Eu, via o Suassuna as vezes ele ia num lugar e Bola vamos lá pra aquele lugar amanhã, tal, e eu ia com ele, vamos, vamos nesse sitio, vamos pra esse lugar, agora vou viajar não vai dar pra ir mas você vai lá pra mim? O grupo saia as vezes pra fazer show e eu ia pra representar o grupo que eu já tinha uma graduação, aconteceu isso muitas vezes. E as vezes eu não ia representar o grupo e o pau comia. Então, essa notícia que me deram que aqui o pessoal ta assim, se unindo, isso é bom demais, só faz levantar a Capoeira. Acaba a arrogância, né? Não precisa arrogância não, pra quê, né? Vida boa, pra você viver bastante, sempre alegre, ter vontade de viver. Então, pra mim é positiva essa junção, essa amizade que vocês fazem aqui. O cara é do outro grupo mas o cara é meu amigo, a gente ta fazendo praticamente o mesmo esporte. Ele pode ter a linguagem do seu grupo e eu tenho o meu, então a gente vai trocar informação, essa junção faz trocar, e isso enriquece qualquer um, né? Por pior que seja o cara, educa também, se o cara é batedor e chega ali, acabou, muda também a concepção.
– Intervenção do Mestre Boca Rica –
Tal vez Mestre, deixe eu contar essa história, quando eu estava em Brasilia num evento: Tinha um cara, Azeitona, Negrão, tamanho dessas portas, maior que eu. Ai tava rolando uma roda e ai o mestre fez dodododododdon não sei quem estava tocando, acho que o Rico mesmo tava tocando e eu fiz aí que eu ia correr, só pra dar um suste né, e u cara fez assim, o aluno, assusto, ai eu, ui foi mal né, ai o Mestre dele que era o Azeitona: está louco, batendo no aluno, porque foi no final da roda, Ai ta batendo no aluno! Ai não, era outro o Mestre, o Mestre dele era outro: amanhã eu vou trazer meu aluno Azeitona aqui, não seu o que, isso de correr pra cima dos alunos, ta. Aí no outro dia eu tava dando aula e chegou o Azeitona, oi Mestre eu não tinha chamado ele lá, ele chegou assim, tal, forte… e eu, fodeu né, ai agora a situação… acabei a roda e eu fale: ei Rico, chega aí mano, posso fazer um sambinha de roda aqui com a galera, a pode pode… ai fiz comecei fazer o samba e eu olhe pra ele, chega aqui mano chega aqui tal… desmontou o cara! Wow não tem problema aqui pra… pra trocar o pau aí com os caras.
Então, essas coisas que a gente falava só enriquecem, a um não vai ficar jovem na Capoeira toda a vida, vai vir outro povo mas vamos crescendo, a gente nunca se viu né? Tamos nos encontrando agora, que fabuloso esse dia, e a noite que a gente passou juntos opa aí, vamos tomar uma, aqui tal, vamos tomar mais uma, e tal.. aquele negócio, então é isso que é bom na vida. Em vez de dispersar, ajuda! E as outras gerações que vão vir tal vez sejam melhores, elas serão mais organizadas então vai ficar uma eloquência que pra nós brasileiros é uma riqueza porque, como aquele poema que eu fiz: a Capoeira é um bom motivo pra o ser humano, vai ao mundo inteiro, muitas casas pra ir é o mundo inteiro. Eu acho que ainda pode acontecer isso, ta melhorando agora, vocês aqui por exemplo tão com um patamar muito bom, não se como ta por ali agora mais agora vou, esse ano eu to com várias propostas de viagens até pra ir em vários lugares. Então, o Poncianinho falou que vai me levar, o Eletrodo falou agora, né Boca? Lembra? eu vou ir pra vários lugares e vou ver mais junção ainda. Isso é pra mim que já to no cabo da boa esperança, to mais pra velho negro que pra capoeirista, e ótimo chegar bem tratado como estou sendo aqui com vocês, é uma riqueza! Agradeço, um moleque que praticamente eu crie, nós somos o espelho deles, chego aqui agora, vinte anos depois vejo ele com um trabalho desse, com uma família, com as dificuldades de casa e trabalhando, dessa .. abrindo portas, fazendo amigos, pra mim um presente muito grande, não sei se da pra vocês imaginar.
A capoeira mudo desde que você começou?
A mudo muito, acho que muito, melhorou os movimentos. Era muito pesado antes ne, as vezes saia um raiva pra não voltar mais tem que voltar porque tem que voltar, ta treinando . Todos os esportes tem o seu peso, né, mas a capoeira era muito pesada, ? Pessoal treinava pra bater mesmo, quando eu comecei eu apanhei muito, e depois que eu peguei o cordão amarelo e tal aí, mas aí você vai ficando esperto. Quando a vida e dura você vai ficando, vai aprendendo. Hoje a forma é mais conversada, não precisa apanhar pra aprender. Precisa conversar pra saber como é, eu já tomei muitos galopantes, Suassuna não batia nas nossas orelhas porque se batia sangrava, mas deu muitos galopantes na cabeça, nas costas, pra você não deixar as bressas. Ele era muito mais rápido que a gente, muito mais com conhecimento. Essa troca de hoje eu acho muito legal porque não pode bater na criança, a criança cresce!
Então acho que melhorou, os movimentos são riquíssimos. Né? Então, pra mim acho que mudou muito, já mudou muita coisa do que era antigamente. Nós não podíamos ficar no mesmo lugar que o Mestre estava, entendeu? – BOCA: isso até quando eu entrei —- Tinha coisas da hierarquia que ainda tem na mão até hoje que, por exemplo, eu ficava esperando pra descer pro bar pra a gente aprender. Porque chegava no bar e quando o Suassuna tomava ia falando tudo, botava tudo pra fora, né? Então cada um separava uma grana e pagava a cerveja, outro cara foi comprar um queijo, um negócio… e tinha o negócio da hierarquia. A gente descia lá no bar do Toni, nós sempre, o bar embaixo da academia. O boteco, cobra mais cara a porção de queijo, a porção de presunto, a porção de… aí a gente pedia pra cortar em cubinhos. Eu descia a botava pra lá na mesa tal, e todo mundo já amontoava ali né ei Mestre ai bem, tal… então ele, bom quem é o cordão mais novo? Fulano de tal, é o Bolinha, porra, naquele ele falava: vai lá no mercado compra meio quilo de queijo o 700 gramas, e manda cortar em cubinhos pra nós. Ah, era um problema aquilo, você queria ouvir a conversa, né? Começar… porque é no bate papo que você aprende muita coisa. Eu tinha que ir no mercado pra comprar o queijo e chegava lá e tinha fila, as vezes, nos frios tal, assim você perdia 5, 6 o 10 minutos e quando você voltava o papo já era outro, aquilo não era muito bom. O que é que a gente fazia, a gente se esforçava pra pegar uma graduação maior pra não precisar ir na ora da conversa, não precisar sair, né? Então isso acho que funciona ainda hoje, isso é bom demais! Porque eu to com uma graduação pequena hoje, eu presto serviço pra você, amanhã eu to com uma graduação maior, o outro presta serviço pra mim que é a coisa da hierarquia, né? Aí entra a coisa do rapaz do respeito e é nessa troca que a gente vai aprendendo. E que é essa vida da gente, aqueles que tão ligados, de coração aberto, e são sinceros, você vai ter a sua família, tudo ,da pra criar os filhos é bom, ajuda muito. Eu acho que mudo bastante.
Mudo a melhor o a pior?
Eu acho que também mudo pra melhor, eu acho que vai ficar ainda melhor, porque você, as vezes sem poder ficar onde o Mestre estava, é muito ruim. Você paga com a festa, ajuda, pos eu quero conversar com o Mestre Fulano, sou fã dele eu vi ele jogando, eu vi ele cantando, eu vi ele dando uma aula, caaara! Quero ficar junto com ele, quero conversar com ele, e falar e como é que é, a vida dele, né? Então acho que é bom, é positivo, enriqueceu muito, porque antes não podia ficar junto com os Mestres, eu no meu tempo eu não ficava junto com os Mestres i quando dava aula também, os caras que tavão mais graduados: a aqui não pode namorar, namorar aqui é só nós que tamos si você… arranca a roda e resolve. Então acho isso bem bom, todo mundo amigo e mandar a pesar disso. Pra facilitar uma situação dessa que ta tendo de refugiados e tal, né, pra ajudar né? Perdeu o preconceito, né? Eu me senti muito bem naquela boîte lá, me trataram bem demais, as meninas dançaram comigo, então, foi legal, gostoso. Então, não separa né, se você vai na mia cidade eu separo você, o me separa a uma preocupação, tira essa preocupação e venha, quanto mais amigos melhor, né? Então acho que algumas coisas mudou, mas ta bom, ta bom acho. Porque o Mestre não vai diminuir porque esteja junto com os alunos, entendeu? E o aluno precisa do Mestre, e o Mestre precisa do aluno. Tem que ser na mesma né, se não tem alunos é Mestre de quem, né? Então essa junção é muito boa, é muito rica, acho legal, muito bom.
Eu gostaria de saber, porque você viajou, foi em muitos países diferentes viu muita galera tentando aprender essa grão arte que é a Capoeira, qual seriam as suas dicas para um aluno novo? Pra um cara que ta começando na Capoeira e tá meio perdido.
O, ele tem que observar o ambiente em que ele está i treinar, porque só o treinamento que vai fazer com você que se desenvolva, né? E quando você este na Capoeira trocando golpes com ele, isso é o que vai fazer você, querer aprender mais golpes, querer estar dentro do mesmo ambiente. Que é ambiente sarcástico, de briga, que a luta que ta embutida no caso da Capoeira, né? Existem outras lutas né? Ambiente de briga e tal, ambiente de desconforto, não é legal. Você não pode passar pra outro mais novo que o ambiente ele é carregado. O cara chega as vezes tudo aberto pra aprender e naquele ambiente sobrecarregado, falso… a falsidade do capoeira é natural do jogo não é ser falso com você. Imagina, o ser humano não é perfeito, tem ainda muita pessoa que mostra uma coisa mais é outra. E a Capoeira do jeito que ela é aprendida, porque é diretiva praticamente, você tem que ter contato com ele pra você aprender a Capoeira. E eu vou trocar com ele as movimentações, então, eu acho que o aluno tem que entrar no ambiente, tem que vir pra Capoeira. Mesmo pode ver no tape, no tudo mais ele tem que vir, fazer a aula. Até porque agora o pessoal ta mais doce, tem ensina, ta mais doce, então, é bom pra ele. Venha. E aprende. Que a Capoeira é esporte de quem é renegado, né? Porque o negro era renegado, não era considerado nem ser humano. E ele fiz essa inteligência toda, a explanação do menino aí ontem, do Poncianinho, muito boa, porque o negro era comprado como animal, e ele criar um esporte como esse que hoje ta alimentando a humanidade pra dizer, que a Capoeira ta em mais de 80 países. Ta em muitos lugares, Japão, um pais fechado, a Capoeira ta lá também. Então os maiores ditadores do mundo, os maiores criadores de defesa do mundo, o paisão antigo, 3000 anos o mais, 5000 anos. Tem Capoeira lá! A contribuição é, se você fica com um problema com eles você perde a contribuição que eles podem dar. Que o mundo deles fiz com o negro e outras circunstâncias não sei, então ali se perdeu muita coisa. Nos temos de vários folguedos que a gente faz, né? Os folguedos seria as modalidades, então, perdeu-se muita coisa por causa dessa coisa da separação, do preconceito. Muitas coisas festivas, boas, perdeu-se. Uma ou outra se conserva, nós temos uma modalidade que se chama Coco que tem 64 maneiras de se tocar, e é gostoso o ritmo. Pra dançar é uma delícia! Tem o jongo, tem várias coisas que ficaram pra trais, mais acho que vão voltar, numa hora alguém vai acionar isso, né? Porque o Maculelê era pra ser perdido, mais o Popó tinha uma informaçãozinha e conseguiu manter vivo. E o Maculelê é uma dança maravilhosa. Sempre você fica mais leve quando você trabalha ele e tem uma junção de amizade. Era luta, era luta antes, agora virou dança. Então na luta você trabalha com os bastões, né? Vira o corpo pra cá, vira o corpo pra lá, desce, sobe, é um arte muito bom. Depois do Maculelê fazer uma aula de capoeira você ta com o corpo bem levinho
Para acabar Mestre, a gente gostaria de saber porque Bolinha?
Bolinha porque eu sempre fui gordinho, né? Eu tive um tempo que eu amei, quando eu fazia os boxa lá eu tava direito na Capoeira, mais eu sempre fui gordinho, eu tinha umos 30 quilos á mais que agora, e eu sou baixinho, eu tenho um metro eu acho que não chega, 1 e sessenta, metro cinquenta e pouco e com 80 kg você imagina. Quando eu comecei na vida musical eu era Bola 7, depois eu saí do interior, de San Lorenzo, que é o primeiro lugar que eu trabalhe como músico profissional, que é no estado de Minas, eu era o Bola 7, aí quando eu cheguei em São Paolo um cara falou, opa mais um Bola 7, já tem um Bola 7 guitarrista, um Bola 7 saxofonista, poxa ele é muito baixinho, ele não vai ser Bola 7, vai ser Bolinha. Ai eu fiquei batizado, eu fiz muita amizade com os músicos, né? A traves de tudo, da amizade, fui muito bem tratado e até hoje a música me preenche praticamente, porque também quando eu cheguei eu fui bem tratado né, não fui discriminado, Bolinha porque eu era gordinho. Dirceu manteve esse meu apelido na Capoeira, e eu fiquei, eu conversei muito com o Suassuna, muito com o Brasilia nos tempos, eles são cracks, extraordinários capoeiristas mas tinha um ambiente mais o menos formado já, o meu tava formado na Capoeira a través do Dirceu praticamente, eu abandonei diretamente no judô, e depois que eu me forme na Capoeira que eu me formei mestre de primeiro grau e aquela coisa, quando ia nos grandes eventos, ainda encontrava os meus sensei de judô tomando conta no primeiro dan de judô também. Os caras continuaram com outras variedades, karatê, judô, Taekwondo e tal… os que tomavam conta do judô eram os Mestres que eu tinha treinado com eles. E eles me reverenciavam porque eu era apaixonado, né?
E qual é o seu nome real?
O meu nome é Aparicio do Nascimento.
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